segunda-feira, 4 de outubro de 2010

“Mas um jornal homossexual, para quê?”

“Mas um jornal homossexual, para quê?” [1]
É com esta pergunta apresentada no jornal LAMPIÃO, do fim da década de 1970, que inicio a problematização da presente pesquisa.
Mas antes de partir para a problematização em si, é necessário contextualizar o período do surgimento do jornal. Criado em 1978, o LAMPIÃO estava em um momento próspero para a chamada imprensa alternativa, que consistia em uma “frente de resistência ao regime da época, composta por veículos que promoviam o debate político, cultural e social, importantes para lutas sociais e para divulgação de informações que os militares desejam ocultar”[2]. É neste período que as sombras do AI-5 (Ato Institucional Nº5), vinham se dissipando desde o enfraquecimento dos censores dos grandes jornais, e a partir de 1975, a imprensa alternativa ganha um forte impulso acompanhando jornais de grande importância como O Estado de São Paulo.  Este enfraquecimento não significou o fim da censura, porém esta se tornou mais flexível em relação a assuntos “não prioritários”.
E nesta abertura, o LAMPIÃO é criado com o intuito de fazer com que muitos homossexuais ainda presos às amarras morais da sociedade deixassem os guetos[3] e que não apenas levantasse uma bandeira exótica, mas também fossem capazes de desmistificar a
“a imagem-padrão que se faz do homossexual, segundo a qual ele é um ser que vive nas sombras, que prefere a noite, que encara a sua preferência sexual como uma espécie de maldição, que é dado aos ademanes e que sempre esbarra, em qualquer tentativa de se realizar mais amplamente enquanto ser humano(...)”[4].

            Partindo deste objetivo – do próprio LAMPIÃO – esta  pesquisa pretende evidenciar o jornal como um formador de uma identidade homossexual, a partir de sua criação em 1978, através de todo um aparato de valores, idéias e discursos apresentados.
A principio o jornal procurava dar voz a uma minoria que buscava seu lugar na sociedade. O discurso proposto pelo LAMPIÃO era dirigido aos gays dos guetos, argumenta Carlos Ferreira em seu artigo Imprensa Homossexual: Surge o lampião da Esquina[5], pois em um período onde a violência física e moral contra os gays era grande, era necessário buscar os direitos enquanto seres humanos. Assim seu surgimento representava o inconformismo diante da repressão e do conservadorismo que se abatia nesta parcela da população, este periódico procurava mostrar também caminhos alternativos para este difícil período[6]. 
A comunicação com o gueto se dava através da linguagem comum existente entre os gays, e colocava a mostra um palavreado até então proibido entre os vocábulos “bem pensantes”, passam a aparecer palavras como viado e bichas nas publicações que buscavam com isso uma maior aceitação por onde circulavam[7].
Escrito por um grupo de senhores homossexuais – alguns conhecidos e respeitados na sociedade – o LAMPIÃO DA ESQUINA abordou em suas 38 edições  (incluindo neste total a edição de lançamento número zero, de abril de 1978), uma variedade de temas como ecologia, sexualidade, artes, machismo, política, discriminação e outros, que acabavam demonstrando o interesse dos gays com assuntos pertinentes a grande parte da população.
Em algumas das edições do LAMPIÃO DA ESQUINA, eram evidenciados outros grupos sociais, como podem ser notados em certas reportagens, como por exemplo “Como aprender com os índios?[8]”, “Negros, homossexuais, mulheres e índios nos debates da USP.[9]”, “Qual é o lugar dos negros no Brasil: Abadias Nascimento responde”[10], “Bichas, mulheres e negros no açougue do marketing.”[11], “Mulher: discurso minoritário, e atuação revolucionária.”[12], “ Congresso das Genis: esquerda joga bosta nas feministas.”[13], “Mulheres e bichas contra a violência.”[14]. Com esta amplitude de temas, o jornal criava fortes ligações com  outras minorias também expostas de maneira intolerável na sociedade.
A aproximação com o gueto além de trabalhar o imaginário do publico alvo, transpassava a idéia de uma identidade gay, pois procurava fugir dos discursos que expunham a homossexualidade como algo a deriva ou inexistente da sociedade, marcando um novo capítulo para a história e afirmação desta identidade. Esta provável identidade pode ser entendida, segundo Stuart Hall (2006)[15] como sendo uma reação defensiva de seus idealizadores frente ao governo moralista e disciplinarizante da época.
Vemos ainda no LAMPIÃO os primeiros passos de uma militância gay no país, pois inicialmente, o jornal “foi enviado a cinco mil pessoas sem distinção de credo, raça ou preferência sexual. Se algumas dessas eram diretamente interessadas nos assuntos por ele, foi apenas o que Hollywood chamaria de ‘mera coincidência’”[16], sendo que a parcela interessada no jornal mostrava-se favorável a sua produção, enviando cartas de apoio que eram transcritas na seção Cartas na Mesa, onde o sujeito se reconhecia intima e publicamente como sujeito de uma homossexualidade já atuante socialmente, é o que explicita Marcio L. G. Bandeira em sua dissertação Será que ele é? Sobre quando o Lampião da Esquina colocou as Cartas da Mesa[17] .
Deste contato com os leitores, os produtores do jornal passam a escrever de acordo com os interesses desta minoria – até seu fechamento em junho de 1981 em virtude da queda das vendas e alguns problemas internos do jornal – como esclarece Aguinaldo Silva, um dos editores e criadores do jornal para a revista ISTO É, de 12 de agosto de 1981.
Apesar do curto período de existência, o Lampião da Esquina iluminou a vida de muitos que ainda não tinha uma identidade homossexual resolvida. Mostrou que essa parcela da população não estava sozinha e, nem era doente muito menos louca, contradizendo o que era dito até então sobre os gays. Jorge L. P. Rodrigues considera que a existência do LAMPIÃO – mesmo sendo tortuosa – teve uma grande influência na construção da identidade gay dos dias de hoje[18], afinal, todo processo de identificação  deve estar ligado com o que queremos ser, ou com o que teremos que fingir. Hall argumenta que “a identificação é um processo de articulação, uma suturação, uma sobredeterminação e não uma subsunção”[19], e no caso do LAMPIÃO, deu-se de maneira simbólica e social.


[1]              LAMPIÃO, Edição experimental, número zero. Abril de 1978, pág. 2.
[2]              FERREIRA, Carlos, Imprensa Homossexual: Surge o Lampião da Esquina. Revista Altejor, Grupo de Estudos Altejor: Jornalismo Popular e Alternativo (ECA- USP), Ano 1. Volume 01, Edição 01, Janeiro – dezembro 2010. p.3
[3]              “Gueto era designação, dada, antigamente, aos locais freqüentados preferencialmente por homossexuais. (...) Tem a mesma simbologia dos guetos do movimento negro ou dos judeus durante o Nazismo. Os Guetos não representavam lutas políticas, apenas reuniões e locais de encontro e convivência com iguais.” Uma História de Dignidade. Curitiba: Grupo Dignidade, 2008. P. 17.
[4]              LAMPIÃO, Edição experimental, número zero. Abril de 1978, pág. 2.
[5]              FERREIRA, Carlos, Imprensa Homossexual: Surge o Lampião da Esquina. Revista Altejor, Grupo de Estudos Altejor: Jornalismo Popular e Alternativo (ECA-USP), Ano 1. Volume 01, Edição 01, Janeiro – dezembro 2010.
[6]              RODRIGUES, Jorge L. Pinto. A imprensa gay no Rio de Janeiro: Linguagem verbal e linguagem visual. IN GROSSI, Miriam Pillar... [Et Al.], Movimentos sociais, educação e sexualidade. Rio de Janeiro: Garamond. 2005. Pág. 71.
[7]              TREVISAN, João S. Devassos no Paraíso: a homossexualidade no Brasil: da Colônia a atualidade. Ed. Revisada e ampliada, 6ª edição. Rio de Janeiro: Record. 2004. p. 339.
[8]              Lampião da Esquina, Ano 1, número 8, Rio de Janeiro, janeiro de 1979.p. 5-6.
[9]              Lampião da Esquina, Ano 1, número10, Rio de Janeiro, março de 1979, p. 9.
[10]             Lampião da Esquina, Ano 2, número 15, Rio de Janeiro, agosto de 1979, p. 10-12.
[11]             Lampião da Esquina, Ano 2, número 17, Rio de janeiro, outubro de 1979, p. 3.
[12]             Lampião da esquina, Ano 2, número 22, Rio de Janeiro, março de 1980, p. 8.
[13]             Lampião da esquina, Ano 2, número 23, Rio de Janeiro, Abril de 1980, p. 6-8.
[14]             Lampião da Esquina, Ano 2, número 30, Rio de Janeiro, Novembro de 1980, p.2.
[15]             HALL, Stuart. A identidade cultural na pós- modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 11ª edição. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
[16]             Lampião da Esquina, Ano 1, número 1, 25 de maio a 25 de junho de 1978. p. 9.
[17]             BANDEIRA, Marcio L. Gomes. Será que ele é? Sobre quando o Lampião da Esquina colocou as Cartas da Mesa. Dissertação (Mestrado em História), São Paulo: PUC/SP, 2006.
[18]             RODRIGUES, Jorge L. Pinto. A imprensa gay no Rio de Janeiro: Linguagem verbal e linguagem visual. IN GROSSI, Miriam Pillar... [Et Al.], Movimentos sociais, educação e sexualidade. Rio de Janeiro: Garamond. 2005. p. 83.
[19]             HALL, Stuart. A identidade cultural na pós- modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 11ª edição. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. p. 106.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

UMA FESTA BEM COLORIDA....


Pois é, acabaram- se os coloridos da festa, os gritos dos anseios já se calaram, as plumas e as fantasias já foram guardadas, os amores e romances deste dia talvez não existam mais.
E agora o que nos resta, apenas esperar que nossas vozes tenham sido ouvidas por alguma alma benevolente? Que nossas fantasias possam ser lembradas por mais tempo que esperamos? Ou sendo mais romântico, esperar que os amores deste dia durem muito além da parada (essa é pra mim mesmo)?
Conheci um menino neste dia, ficamos durante a parada e depois que ela terminou...
Tem um beijo gostoso, um cheiro que não me deixa esquecer aquele 19 de setembro, e me fez sentir bem como a muito tempo eu não me sentia.
Confesso que ficamos mais uma vez depois deste dia, e temos conversado quase que diariamente, confesso também que fico ansioso perto do horário que ele diz que vai ligar, e quando liga eu fico todo bobo no telefone.
Isso é amor? Ou é só uma paixonite de parada? 
Claro, sei que não tenho a idade mais adequada para ter paixonites, mas sou um ser humano que esta sujeito (infelizmente) a tudo. 
Agora eu fico na dúvida se me prendo aos brilhos e coloridos da festa do dia 19 ou se me jogo no beijo e no cheiro deste menino.
...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

...desabafos iniciais...

UAL!! faz tanto tempo que eu não sento pra escrever um texto deste gênero, meus últimos textos ou tem sido melodramáticos ou acadêmicos demais, não que eu não me orgulhe deles, mas creio que venho precisando de um tempo pra simplesmente refletir sobre coisas mais normais. Bem, ainda não tive a inspiração necessária pra isso, mas com certeza, do nada vou ter um insight e alguma coisa legal surge, sempre é assim! Com tudo!
                               A.G.